Uma marcha no vazio do eu

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“No primeiro plano do rosto, o fundo desvanece-se por completo. O que conduz a uma perda do mundo. A estética do primeiro plano reflete uma sociedade que se tornou, ela própria, uma sociedade do primeiro plano. O rosto dá a impressão de ter ficado apanhado em si mesmo, tornando-se autorreferencial. Deixa de ser um rosto que contenha mundo – ou seja, deixa de ser expressivo. O selfie é, exatamente, esse rosto vazio e inexpressivo. A dependência aditiva do selfie remete para o vazio interior do eu. Hoje, o eu é muito pobre em formas de expressão estáveis com as quais se pudesse identificar e que lhe concedessem uma identidade firme. Hoje nada tem consistência. Esta inconsistência repercute-se também no eu, desestabilizando-o e tornando-o inseguro. É precisamente esta insegurança, este temor por si mesmo, que conduz à dependência do selfie, a uma marcha no vazio do eu, que não encontra nunca sossego. Confrontado com o vazio interior, o sujeito do selfie tenta em vão produzir-se a si próprio. O selfie é o si-próprio em formas vazias. Estas reproduzem o vazio. O que gera a adição ao selfie não é um autoenamoramento ou uma vaidade narcísicos mas um vazio interior. Não há aqui um eu estável e narcísico que se ame a si mesmo. Encontramo-nos antes frente a um narcisismo negativo.”

(Byung-Chul Han, A Salvação do Belo, Relógio D’Água, 2016, p. 24)

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